Thiago Minami, especial para a Agência USP
As crianças que estudam nas redondezas do Rio Corumbataí, no interior
de São Paulo, não podem nadar ou pescar nas águas poluídas. Apesar
disso, muitos desconhecem a parcela própria de responsabilidade em
conservar o rio limpo. Foi o que percebeu a bióloga Vivian Battaini, da
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em
Piracicaba, em sua pesquisa de mestrado, numa série de oito oficinas
sobre educação ambiental que organizou em quatro escolas públicas da
região. Para enriquecer o debate, propôs às crianças a produção de
conteúdos de jornais e fanzines sobre a preservação do Corumbataí. O
trabalho integra o projeto temático do Programa Biota da Fapesp
“Mudanças socioambientais do estado de São Paulo e perspectivas para
conservação”.
Oficinas produziram conteúdos sobre a preservação do Rio Corumbataí |
O Rio Corumbataí tem 140 quilômetros (km) de extensão, nasce no
município de Analândia e desemboca em Piracicaba, abastecendo a
população da cidade e de Rio Claro, entre outras da região. Enfrenta
problemas como poluição, assoreamento e queda de árvores. Por que o rio
está poluído? De quem é a responsabilidade? É possível denunciar quem,
por exemplo, joga detritos na água? Essas foram algumas das questões que
Vivian levantou com os alunos, todos do segundo ciclo do ensino
fundamental.
“O estudo da bacia hidrográfica local estimula um processo social de
responsabilidade e vínculos com o ambiente físico em que vivem e, dessa
forma, estimula o pertencimento. Esse é um sentimento importante que
potencializa o agir na comunidade”, escreve Vivian na dissertação
intitulada Educomunicação socioambiental no contexto escolar e conservação da bacia hidrográfica do Rio Corumbataí.
A educação ambiental está prevista nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs), que dão as diretrizes para o ensino básico brasileiro.
“As escolas tratavam a educação ambiental por meio de temas como
plantar uma árvore e cuidar do próprio lixo. Mas faltava olhar para o
meio em que os alunos estavam inseridos”, diz a pesquisadora, que faz
parte do grupo de pesquisa e extensão em educomunicação da Esalq
coordenado pela professora Laura Alves Martirani, que também orientou a
pesquisa. O projeto também inclui a gestão de um blog (www.educorumbatai.blogspot.com
), que conta com a participação de estudantes universitários, e um
documentário sobre a problemática dos recursos hídricos na atualidade e
na região estudada.
Segundo Vivian, o trabalho mais difícil foi na escola que pertencia à
região mais pobre entre as visitadas. A falta de infraestrutura local,
como ruas sem asfalto e transporte precário, despertava nos alunos a
sensação de que seus direitos não estavam sendo cumpridos. “Por isso,
eles tinham dificuldade em aceitar que pertencem ao local e possuem
deveres a cumprir, como a preservação do rio”, conta.
Educomunicação
O uso da educomunicação nas oficinas teve por objetivo
desenvolver o olhar crítico dos alunos sobre a sociedade e interligá-los
ao contexto social e midiático em que estão. Deste modo, criam
consciência sobre o próprio papel na conservação dos recursos naturais
da região e desenvolvem habilidades para participar de modo mais efetivo
na realidade social.
Para trabalhar elementos da mídia impressa em sala de aula, Vivian
fez parceiras com jornais locais e levou profissionais da área para
conversar com a garotada. Analisou textos de publicações conhecidas e
perguntou se alguma delas abordava questões relativas ao Rio Corumbataí.
Diante da resposta negativa, propôs que os alunos levassem suas
opiniões a público.
“A maior dificuldade foi despertar neles a vontade de escrever”, diz.
A solução foi estimulá-los a pôr no papel as próprias ideias e
opiniões. O objetivo não era chegar a um texto jornalístico profissional
e, sim, oferecer uma ferramenta de reflexão sobre o meio ambiente.
Imagem cedida pela pesquisadora